sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Como As Crianças Constroem A Leitura E A Escrita
Perspectivas Piagetianas
1.Descoberta das invenções das crianças na língua escrita
Yetta M. Goodman
Desde muito tempo que profissionais na área da linguagem se interessam por saber mais sobre o conhecimento que a criança tem sobre sistemas de leitura e escrita. Suas observações permitiram-lhe afirmar que antes mesmo dos 5 anos de idade as crianças já sabem muito sobre a escrita
É comum em crianças dentro dessa faixa etária, abaixo dos 5 anos, a curiosidade pela escrita impressa. Pegam livros e levam até seus pais a fim de que os leiam para si. Querem ouvir a história e com o passar do tempo a conhecem mentalmente. Sozinhos já pegam os livros e passam o dedo por sobre as linhas e contam a história do seu jeito, assim como lembram que contaram a ela. Virando as páginas, improvisam um texto, assim elas estão aprendendo a ler.
Uma carta foi recebida em casa, lida em voz alta para que todos na sala a ouçam.Quando é colocada sobre a mesa, a criança a toma, examina com os olhos, vira e desvira a folha, pensativa. Pouco depois ela pede um lápis, senta e começa a rabiscar o canto branco da folha. Levanta e leva para sua avó com o pedido de que leia. Se a avó não improvisar, essa criança pegará o papel e lerá aquilo que pensa ter escrito, o que na verdade quis expressar no papel. Ela está aprendendo a escrever.
Já nos anos 20, Vygotsky, um psicólogo soviético, levantou sérios questionamentos a respeito do método que Montessori aplicava em sua escola, na Itália, onde o ensino da escrita era aplicado como uma capacidade motora e não uma atividade cultural complexa, escrever deve estar ligado à vida. Durante o movimento dos anos 20 e 30 de estudo das crianças, Gesell e Ilg documentaram, conseguiram categorizar e descrever a ortografia e as estratégias das quais lançavam mão de maneira sistemática na escrita em crianças pré-escolares, ainda não envolvidas com experiências escolares. Mas foi só nos anos 70 que pesquisadores retomaram com maior profundidade a variedade de conceitos, explícitos e intuitivos, das crianças sobre a natureza dos sistemas de escrita e leitura.
Outros educadores e pesquisadores, ao longo do tempo, preocupados em “como” ensinar as crianças a ler e a escrever, ignoraram o fato de que elas já estavam aprendendo a ler e a escrever, ao lerem e escreverem para aprender. Heath (1983) partilha essa visão em sua exploração da escrita e leitura infantil antes da escolarização.
Psicogênese e desenvolvimento da alfabetização
O trabalho de Piaget (1976) teve um tremendo impacto sobre o entendimento de como as crianças apreendem seu mundo. As importantes contribuições trazidas por sua abordagem clínica ao entendimento do mundo infantil não podem ser subestimadas. Até mesmo seus críticos trabalham a partir de seus entendimentos.
Os seres humanos têm uma história. Sua história não só representa suas experiências diárias ao longo da vida como também abrange sua inclusão numa família, comunidade e cultura. A participação nos eventos comuns de alfabetização e – imersão quotidiana em experiências de leitura e escrita- por parte da família, da comunidade e das várias subculturas, nas quais os homens coexistem continuamente, também é parte da história humana. Os piagetianos ajudam quem trabalha com crianças a entender a importância de reconhecer significado dessa história no desenvolvimento do conhecimento de cada indivíduo.
Ferreiro, Teberosky e seus colegas pediram para crianças lerem jornais e livros e escreverem nomes de pessoas e de outros objetos animados e inanimados familiares. Pediram, também, para as crianças escreverem palavras isoladas, frases e várias marcas ortográficas com bases em seus entendimentos da lingüística e sempre considerarem a relação dessas unidades com textos maiores. Através de suas investigações, os pesquisadores puderam entender como as crianças vêm a conhecer o sistema de linguagem escrita – sua forma, seus usos e fins, e sua relação com os objetos dentro da cultura.
Alfabetização enquanto processo psicogenético
Primeiro nível
No primeiro nível as crianças tentam diferenciar aquilo que é escrita daquilo que é desenho. Após muita investigação elas percebem que não é o tipo de linha que definem um do outro, afinal para escrever também usamos retas, curvas ou pontos. A diferença está na organização destas linhas, afinal quando desenhamos as usamos para contornar o objeto e quando escrevemos as mesmas linhas não acompanham contorno nenhum.
A partir daí a criança começa no processo de organização quanto à qualidade e quantidade, ela acha que para ser uma palavra deve ter no mínimo três letras e no máximo seis ou sete, esse é o princípio quantitativo. O qualitativo é que essas letras devem ser diferentes, do contrário não vale para elas.
Segundo nível
Um controle progressivo sobre as variações qualitativas e quantitativas leva à construção de modos de diferenciação entre escritos. Esse é um dos maiores resultados desse segundo nível. Doravante, as crianças procurarão diferenças objetivas nas cadeias escritas que justifiquem interpretações diferentes. No primeiro nível as crianças contentavam-se com suas próprias intenções. As cadeias poderiam ser as mesmas, para quem as visse de fora, mas para a criança bastava dizer que um era uma coisa e que a outra cadeia era outra coisa diferente, afinal bastava apenas sua intenção do que “escrever”. Nesse nível já não é assim, as crianças pretendem achar diferenças suscetíveis que justifiquem diferenças de intenção. Percebem que duas cadeias exatamente iguais não podem significar coisas diferentes.
Terceiro nível
O terceiro nível corresponde à fonetização da representação escrita. As crianças constroem três hipóteses bem diferenciadas durante o período que caracteriza esse nível: silábica, silábica-alfabética, alfabética. O grande valor desse subnível reside no fato de que, pela primeira vez, as crianças chegam a uma solução satisfatória para um dos maiores problemas enfrentados no nível anterior- um controle objetivo das variações na quantidade de letras necessárias para escrever qualquer palavra. Algumas crianças alcançam a hipótese silábica com o simples controle quantitativo de suas produções, isto é, a mesma quantidade de letras para quantidade de sílabas. Assim, durante o subnível silábico, as crianças podem passar a procurar
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